quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Montagem inédita de texto de Kafka

Da Redação

Em "Comunicação a uma Academia", um macaco, interpretado por Juliana Galdino, relata à platéia como se tornou humano. Vigiada por um guarda armado (Gê Viana), a criatura fala sobre o processo de transformação por meio do qual aprendeu a se comportar como um homem. O macaco relata sua história aos excelentíssimos senhores membros da Academia. Enfatiza que lutou para aprender a se comportar como um de nós: aprendeu a apertar mãos, a fumar cachimbo (costume que caracteriza civilização), a beber aguardente, a falar (conquista suprema) e, por fim, a pensar como um de nós.

O macaco reflete e compara sua condição animalesca anterior com a atual humanidade conquistada – hesita, se contradiz, torna-se agressivo, sarcástico, niilista, arrogante, frágil, perplexo. Tornou-se outra coisa – foi forçado a fazê-lo, morreria se permanecesse ele mesmo, precisava tornar-se como os que o espreitavam do lado de fora da jaula. Agora não está mais preso – mas percebe que tampouco está livre. Afinal, tornou-se um homem, e aos homens (ele descobre) não cabe a liberdade.

"Comunicação a uma Academia" desenha o processo pelo qual alguém se torna “humano”. Isto é, o processo que leva um indivíduo (ou mesmo todo um povo) a abraçar voluntariamente uma idéia hegemônica relativa ao que é ser um ser humano, sob o risco de exclusão da comunidade global. Metáfora terrível de toda forma de condicionamento, colonialismo, adestramento e aculturação, o texto de Franz Kafka suscita a reflexão a respeito de questões urgentes e graves da era globalizada.

Sobre a montagem

A encenação é minimalista. O palco, praticamente vazio de objetos, está repleto das palavras da “criatura”. “Conforme a pesquisa da companhia, o trabalho será pautado na imobilidade dos atores, em movimentos mínimos (mas significativos), numa luz fria e crepuscular e no emprego musical da fala, alternando ritmos, sensações e sobreposições”, conta Alvim.

Alvim, que assina também cenário, iluminação, figurinos e trilha sonora, criou um ambiente frio, asséptico, claustrofóbico. “As paredes do cenário são forradas por placas de mármore verde-musgo, com uma grande cabeça de leão empalhada no alto. Nesse lugar, separado da platéia por uma corda de isolamento, o macaco fala, e sua palestra ocorre sob a tensão constante oriunda da presença vigilante de um guarda armado com um rifle”, explica.

A encenação de "Comunicação a uma Academia" destoa da proposta inicial da companhia Club Noir, que era produzir exclusivamente peças de autores contemporâneos. “Isso se deu devido ao encontro do grupo com a obra e as questões nela presentes. A síntese altamente dramática elaborada por Kafka tornou o texto incontornável para nós”, explica o diretor. “Sua pertinência e atemporalidade tornam seu diálogo com o público de hoje tão potente quanto aquele estabelecido pelas melhores obras produzidas na contemporaneidade.” completa.

Serviço:
"Comunicação a uma Academia"

com Juliana Galdino e Gê Viana.
Terças e quartas às 21 horas.
Teatro Imprensa - Rua Jaceguai, 400. - Tel. (11) 3241-4203.
Ingressos: De 4 a 31 de março – 1 lata de leite em pó, que deve ser trocada por 1 ingresso na bilheteria do Teatro. De 1º de abril a 20 de maio - R$ 10,00 (inteira) e R$ 5,00 (meia).
Não recomendado para menores de 16 anos.

Um comentário:

Unknown disse...

Sinto muito mas essa não é uma montagem inédita, a anos um grupo de teatro de Itajaí, Santa Catarina, apresenta montagem deste texto. Uma montagem excelente, inclusive.

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