Guilherme UdoEditor de Teatro
Um dos melhores espetáculos da cena teatral de São Paulo, "Nu de mim mesmo", encerra temporada no próximo fim de semana. No palco estão os atores Adriano Garib, Fábio Dultra, Júlia Lund, Miwa Yanagizawa e Otto Jr. A equipe ainda é conta com a presença do músico Felipe Storino e de Flávio Graff, que empresta sua voz para pequenas interferências na narrativa. O roteiro e a direção são de Jefferson Miranda.
Não importa destacarmos a história ali representada, mas sim a experiência que é proposta ao público. Expectativas, realizadas ou não, frustrações, arrependimentos, tomadas de consciência e engrandecimentos íntimos são alguns dos temas da peça. Antes do início, todos são avisados que a duração é de aproximadamente três horas e meia - varia de acordo com o desenrolar de trama com a ajuda da plateia - e que água, bolachas e banheiro estão à disposição da platéia no próprio local onde ocorre a encenação.
Não existe a noção de plateia conhecida pelo grande público. Assim, todos dividem um mesmo espaço. Atrás dos espectadores, que estão sentados em um grande retângulo, existem telões onde videoartes com ambientações e poética são projetados e em alguns momentos dados informativos que parecem até desconexos a ação sendo representada.
Tudo parece muito onírico: o tempo da ação é lento, cenários transitórios, acúmulo de objetos de cena, um mesmo ator desenvolvendo vários personagens. E nesse grande sonho, o público é convidado a se manifestar e participar, mas não de maneira agressiva, são apenas memórias a serem compartilhadas e que oportunamente venham a ser utilizadas no contexto da peça de forma lírica.
As músicas especialmente compostas para a peça são uma atração à parte e só somam ao todo cuidado cênico. Miwa Yanagizawa se destaca no elenco e pode ser considerada uma das grandes atrizes do teatro brasileiro comtemporâneo.
"Nu de mim mesmo" mostra que a busca desenfreada por ser herói e que a luta constante por nossos sonhos pode nos levar a perder afetos, sentimentos, relações e emoções.
“Não existe um texto fechado, é um trabalho coletivo desenvolvido a partir de uma interação emocional”, conta a atriz Miwa Yanagizawa. “A trama traz muitas histórias nas quais o tema principal é a perda do afeto, o distanciamento entre as relações. É quase como um origami que vai se desdobrando em outras tramas que correm paralelas. A intenção com esse projeto é reencontrar o sentido da fábula por meio de depoimentos reais”, compara Flávio Graff.
Há quase 20 anos na estrada, a companhia carioca Teatro Autônomo se destaca na cena artística pela técnica original de criação, pois, a cada novo projeto, o próprio espetáculo em sua totalidade vai-se construindo nos ensaios, através de procedimentos que incluem estudos, dispositivos de ensaio-erro-acaso, improvisações, entre outros, com a participação de todos os integrantes da companhia.
Serviço:
"Nu de mim mesmo"
com Cia Teatro Autônomo.
Sexta a domingo às 19h30.
SESC Avenida Paulista - Avenida Paulista, 119. - Tel. (11) 3179-3700.
Ingressos: R$ 20,00 (inteira); R$ 10,00 (usuário matriculado no SESC e dependentes, +60 anos, estudantes e professores da rede pública de ensino). R$ 5,00 (trabalhador no comércio de bens e serviços matriculado no SESC e dependentes).
Não recomendado para menores de 16 anos.
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