
A performance Alice, da Cia. Espaço em Branco, de Porto Alegre, estreia em São Paulo no Teatro Oficina. Com concepção, direção e atuação de Sissi Venturin, o monólogo é uma livre adaptação de dois livros de Lewis Carroll: Alice no País das Maravilhas e Alice Através do Espelho. A atriz divide a atenção do espectador com projeções visuais psicodélicas e surreais, casando com o clima absurdo da obra. O stop motion Rainha pela Boca foi criado especialmente para o espetáculo pela diretora em parceria com Leonardo Remor.
A dramaturgia reúne fragmentos das obras originais com o crédito das personagens. São diálogos de Alice consigo mesma, ou melhor, com os seres de seu sonho, como o Coelho Branco e a Rainha Vermelha. Em cena, a atriz interpreta dez personagens, destaque para a lagarta fumante e a composição da Rainha de Copas.
Além de variações na postura corporal e na entonação vocal, a atriz usa adereços cênicos (por ela escolhidos) para caracterizar as personagens. Destaque para o figurino da Rainha de Copas, com coroa, óculos de espelhos e gola vitoriana. Ela usa as agulhas das tessituras de Alice para alinhavar o próprio pescoço, enquanto anuncia a sentença de morte da personagem-título.
"O tom da encenação é onírico e o texto, metafórico, sem separar o palco da platéia. O objetivo é fazer um espetáculo diferente em cada apresentação por causa da participação das pessoas", diz Sissi Venturin. A encenação é simples, rica em significado e busca o encontro entre artista e espectador.
Buraco escuro
Convidado de um banquete de desaniversário, a hora do chá, o público faz parte da peça. No mesmo nível da platéia, o palco é delimitado por pratos com novelos de lã, fio condutor da narrativa, e xícaras, onde 12 espectadores podem sentar em almofadas no chão, em círculo. A proposta é fortalecer a ideia de "buraco escuro do Coelho Branco", onde Alice cai (seu inconsciente), após adormecer. A platéia fica ao redor dessa área.
Após sair de um casulo de tule pregado no teto do teatro Oficina, Alice chega por rapel. Ao tocar o solo, pega um novelo de lã, começa a tecer e a girar. Ao rodar, seu corpo se enreda no fio vermelho. Ela só se desvencilha das amarras mais tarde, quando ao público serão oferecidos objetos cortantes, como facas, tesouras e estiletes, para que a liberte. O espectador tem com o espetáculo uma relação além de visual, tátil. O paladar é outro sentido explorado.
Feito de morango, o coração de Alice "que é uma bomba" explode. Ela cai, rompe a barriga soltando um grito estridente e jorram de seu corpo marshmallows em forma de coração. Paralisada sobre o palco, diz ao público: "Coma-me", "Beba-me". Oferece seu coração em forma de suco de morango, batido e adoçado na hora. As duas frases, presentes no primeiro livro de Carroll, são mote para a criação da cena, que também reverencia as obras Canibalismo e Baba Antropofágica (ambas de 1973), de Lygia Clark.
No final do espetáculo, as lãs coloridas dos pratos dos convidados são presas no cinto de fita vermelha da Rainha de Copas. Ela sai de cena levando o fio condutor. Nesta narrativa, todos os caminhos pertencem a ela.
Serviço: "Alice"
com Sissi Venturin.
Quartas às 21h00.
Teat(r)o Oficina Uzyna Uzona - Rua Jaceguai, 520, Bixiga. - Tel. (11) 3106-2818.
Ingressos: de R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia).
Livre.
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